A proposta do japonês Morinari Watanabe, candidato à presidência do Comitê Olímpico Internacional (COI), para dividir as Olimpíadas de Verão entre cinco cidades em cinco continentes soa mais como um experimento arriscado do que uma solução. O presidente da Federação Internacional de Ginástica defende que a fragmentação geográfica reduziria custos econômicos e ambientais, mas algo nos sinais apontam que isso pode criar um verdadeiro caos logístico, principalmente para os atletas e jornalistas.
O plano de Watanabe surge em um cenário onde decisões recentes envolvendo a Copa do Mundo da FIFA de 2030 e 2034 já geraram críticas semelhantes. A edição de 30 será realizada em seis países, espalhados por três continentes, enquanto a de 34 foi entregue integralmente à Arábia Saudita, uma escolha que muitos interpretam como favorecimento ao país do Oriente Médio.
Agora, com as Olimpíadas potencialmente seguindo a mesma linha, especialistas alertam para os riscos de desgaste extremo, fuso horários conflitantes, e a diluição do espírito unificador dos jogos.
DDD: Década de Decisões Duvidosas
A ideia de Watanabe reflete um padrão recente de fragmentação nos eventos esportivos globais:
- Copa do Mundo de 30: Seis países (Uruguai, Argentina, Paraguai, Espanha, Portugal e Marrocos) e três continentes. Embora a FIFA tenha promovido a decisão como "celebração global", críticos apontam que a escolha foi uma forma de contornar o rodízio entre continentes, prejudicando a coerência e impondo custos adicionais a todos os envolvidos.
- Copa do Mundo de 34: A entrega direta à Arábia Saudita, sem competição real, é vista como uma recompensa às estratégias de investimento do país no esporte. Com a América do Sul, África e Europa "sacrificadas" em 2030, a escolha favorece o Oriente Médio e cria um precedente perigoso.
- Olimpíadas a partir de 36: A proposta de dividir os jogos entre cinco continentes é apresentada como uma inovação, mas muitos consideram que isso transformaria as Olimpíadas em uma bagunça logística sem precedentes, prejudicando tanto a experiência dos atletas quanto o interesse do público.
Impactos negativos para atletas e cobertura jornalística
Dividir os jogos entre continentes implica que atletas precisarão lidar com fusos horários drásticos, diferentes condições climáticas e culturais. É necessário frisar que isso pode afetar o desempenho dos competidores e aumente os riscos à saúde física e mental.
Além disso, jornalistas e emissoras de televisão enfrentarão trabalhos extremos para cobrir eventos em múltiplos fusos horários. A fragmentação também pode diminuir a audiência, já que competições importantes poderiam ocorrer em horários desfavoráveis para o público em todo o planeta.
Diluição do espírito olímpico e do esporte
Tal como a inclusão de 48 seleções na Copa do Mundo da FIFA, essa ideia levada à tona é também uma das críticas mais severas à proposta é a diluição do espírito unificador dos Jogos Olímpicos. Realizar o evento em várias cidades simultaneamente fragmenta o senso de comunidade que torna as Olimpíadas únicas.
A olimpíada não é apenas sobre competição; é uma celebração do encontro global em um só lugar; e dividi-los é desrespeitar esse princípio fundamental.
Conclusão: reforma ou loucura?
As decisões recentes envolvendo a FIFA e a proposta de Watanabe para as Olimpíadas refletem um paradoxo do esporte moderno: enquanto as organizações esportivas buscam inovação e globalização, essas escolhas parecem priorizar interesses financeiros e políticos à custa dos atletas e dos fãs.
Com os grandes eventos cada vez mais fragmentados e dominados por disputas de poder, o risco é transformar o esporte em um espetáculo desorganizado e alienante, em vez de uma celebração global verdadeiramente inclusiva.